15.9.06

GOSTAR DE HÓQUEI (6) - O Mundial de Barcelos

Um momento determinante na minha paixão pelo hóquei foi sem sombra de dúvida o Mundial de 1982 em Barcelos, que culminou com a conquista do título pela selecção portuguesa, algo que eu então vivi pela primeira vez.
Toda essa prova foi fantástica, e teve em seu redor, além do título, dois outros factores que fizeram dela no meu ponto de vista uma competição mítica: o facto de ter sido muito longa, e de ter sido objecto de transmissão televisiva, numa altura em que se estava na alvorada da televisão a cores em Portugal.
De facto julgo ter-se tratado do Mundial mais longo de sempre, com duas fases sucessivas, a primeira ainda em Lisboa (no velhinho Pavilhão dos Desportos, agora baptizado de Carlos Lopes), e a segunda em Barcelos, mas ambas disputadas em sistema de poule o que fez com que cada selecção jogasse um elevadíssimo número de partidas (treze ? catorze ?) se compararmos com o que hoje acontece neste tipo de competição. Terão sido talvez umas quase três semanas de hóquei ao mais alto nível.
Por outro lado foi a primeira vez que tive oportunidade de ver as cores de um jogo de hóquei. Vivendo longe das principais cidades, nunca tinha até então entrado num pavilhão para ver uma partida ao vivo, pelo que vivia a paixão pela modalidade exclusivamente através de pequenas e raras fotografias de jornal, e um ou outro resumo na tv, para além naturalmente da rádio que era o veículo privilegiado dos amantes do hóquei patinado naqueles tempos. Neste Mundial (o primeiro a que assisti pela televisão) pude ver durante todos aqueles dias consecutivos a nossa selecção a despachar sucessivamente Itália, Argentina e Espanha, passando por todas as outras selecções presentes, à excepção da Holanda com quem não fomos além do empate a dois.
Os jogos de Portugal fechavam invariavelmente as jornadas e disputavam-se já bem tarde, pelo menos para os meus doze anos. Iniciava-se quase sempre já depois das 23.30 h, terminando já depois da 01.00 h. Mesmo assim não perdi um único.
O único jogo não televisionado da selecção das quinas acabou por ficar na história, pois resultou na maior goleada de sempre aplicada por Portugal numa competição internacional: 52-1 (!) com 25 golos de José Virgílio, que nem sequer era titular habitual, e que só nesse jogo garantiu o título de melhor marcador da prova. Este jogo foi ainda na primeira fase, a partir da qual os vários grupos apuravam os julgo que dez finalistas. Na altura só se disputava um Mundial, não havendo grupo A e grupo B.
As equipas presentes eram bastante fortes, pois tanto Espanha, Argentina e Itália, como outsiders como Alemanha, Brasil ou Holanda, apresentavam-se em bons momentos.
Na Espanha a base continuava a ser a do Barcelona: Trullols, Vila Puig, Torner, Pauls e Centell. Na Argentina a estrela era Daniel Martinazzo, considerado então o melhor jogador do mundo, mas também Mário Rubio, Luz, Mário Aguero e o outro irmão Martinazzo eram garantia de qualidade. Os italianos traziam Marzella, então um jovem promissor, enquanto os holandeses contavam com Habraken, que era uma das principais estrelas do hóquei europeu da altura (a sua equipa Lischtaad, chegou a disputar finais europeias).
Portugal por sua vez contava com uma poderosa equipa, que resistiu muito bem ao final de carreira de Livramento. Ramalhete era o guarda-redes e Franquelim Pais o seu suplente. Ao quinteto do Benfica José Carlos, Fernando Pereira, Leste, Cristiano e José Virgílio, juntava-se o duo leonino João Sobrinho e Chana (resistentes do título europeu de 76-77). Completava o lote o defesa/médio então do Oeiras Vítor Rosado.
Ao longo da prova Portugal não deu no entanto grandes hipóteses à concorrência. 6-1 à Itália, 3-0 à Argentina, depois o inconsequente empate frente aos holandeses, mais algumas goleadas (lembro-me de um 18-0 à Colômbia), e estava na final diante da Espanha.
A final decorreu num domingo ao fim da tarde, com o pavilhão completamente cheio (como acontecera quase todos os dias), e o país suspenso a assistir pela televisão.
A Espanha marcou primeiro deixando no ar a ameaça de uma frustrante derrota ao último dia, como muitas vezes ocorreu na história deste desporto.
Mas Portugal a partir daí foi esmagador, chegando a 5-3, resultado final, do qual recordo particularmente o golo de José Carlos marcando nos últimos instantes e que garantia a vitória e o título.
Tudo terminou então em apoteose, com Ramalhete a erguer a taça.
Era a primeira vez que eu assistia a semelhante feito, e teria que esperar nove anos até ver repetida a saga, então no Mundial 91 no Porto.

1 comentário:

  1. Espectacular! É das grandes recordações que mantenho da infância. Assisti a todos os jogos na companhia do meu pai até altas horas da noite, o que, para além do prazer de ver os jogos, constituía também um motivo de entusiasmo na altura!

    Parabéns pelo blog, ainda bem que há quem sinta o mesmo que eu sinto em relação a uma modalidade que tanto prestigiou (e ainda prestigia) o nosso país, e que se encontra em pronunciada crise.

    Um abraço

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