19.7.06

TIROS NO PÉ

O Hóquei em Patins não é um fenómeno global, há que reconhecê-lo. Não é como o Futebol, nem mesmo como o Basquetebol. Os seus adeptos e praticantes cingem-se a pouco mais de meia-dúzia de países, dos quais apenas Portugal, Itália, Argentina e Espanha disputam títulos, sendo que, nomeadamente nestes dois últimos, grande parte das principais equipas se situam numa só região geográfica.
Custa assim ainda mais verificar como os responsáveis pelo hóquei em patins são por vezes capazes de dar autênticos tiros no pé de uma credibilização e espectacularidade que a modalidade precisaria, como de pão para a boca, para se afirmar no panorama do desporto internacional. A organização deste Europeu é, a vários títulos, um exemplo paradigmático daquilo que se não deve fazer.
Escolher um pavilhão com mais de cinco mil lugares para uma competição desta natureza prova a falta de noção das realidades de quem está a organizar. O resultado é um aspecto confrangedor, sem público, sem calor humano, o que não ajuda quem joga nem quem vê.
O modelo competitivo é grotesco. Fazer toda uma fase de grupos para excluir apenas uma das nove selecções em presença é algo que não me recordo de ver, nem em torneios de bairro de qualquer modalidade desportiva. Já que as selecções não são muitas, e se pretende que a prova dure uma semana, não me repugnaria nada se, com este número de participantes, se continuasse a disputar um campeonato de todos contra todos, como foi até há alguns anos atrás (seria até uma forma de marcar a diferença entre Europeu e Mundial). Em alternativa podia-se seguir um modelo com dois grupos que apurassem os dois primeiros para umas meias-finais. Assim é que não.
As tabelas do Hóquei no Gelo até podem favorecer o espectáculo, mas chegar-se a um Campeonato da Europa com os seleccionadores a discutirem se estas são ou não tabelas regulamentares é um atentado à modalidade.
Finalmente gostaria de acrescentar algo que é comum às competições nacionais, e que há muito deveria ter sido objecto de uma reflexão. Tendo em conta que nos dias de hoje qualquer modalidade procura responder às exigências de uma espectacularidade televisiva que garanta receitas necessárias à sua viabilização e expansão, não se entende como continua a ser permitida publicidade no próprio piso, sabendo-se o que isso perturba em termos de transmissão televisiva dada a pequena dimensão da bola e a velocidade a que ela rola. Com pisos necessariamente claros, bolas escuras ou até eventualmente em cores garridas, e sem qualquer publicidade, certamente que um jogo televisionado teria outro encanto, e seria um produto mediático mais apetecido. Veja-se como exemplo o que aconteceu no último Mundial de Futebol, quando a FIFA ordenou a cobertura dos estádios que dela dispunham, de modo a não deixar que os contrastes entre as zonas de sol e de sombra pudessem beliscar a qualidade da imagem. É também assim que o Futebol cimenta o seu reinado. Aprenda-se com ele.

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